O caipira é um tipo humano de uma determinada região. Sua vida simplória, sua falta de instrução, são fatores hereditários que tornaram-no uma figura característica do nordeste e interior paulista. Mas como qualquer tipo humano, ele possui belíssimas tradições que chegaram até nós através de gerações.
Acreditamos que nas festas juninas o caipira aparece como uma figura deturpada, o que tornou-o extremamente cômico, próximo de um palhaço, talvez por pura falta de conhecimento da verdade que representa sua figura. A imaginação jocosa não vê as qualidades e virtudes que possui, frente as condições desfavoráveis do seu viver.
PALAVRIADO
(Fonte: www.ctcriopreto.com.br)
Adiverti : Não tem nada a ver com advertir. Na verdade é o mesmo que divertir. No sítio se fala: “Nóis se adiverti com os bailão”.
Alói : É o mesmo “alui”, mas o caipira às vezes diz: “Ele não alói do lugar”.
Aluí : O caipira usa muito esta expressão sempre que se refere a algo que não se mexe, ou até com pessoas. Você pode ouvir: “Fiz toda força pra rancá o toco, mas nem aluiu”. Ou então: “Minha sogra fica aqui em casa mais de ano. Quando eu penso que ela vai embora, ela nem alui”. Aluí é mexer, mover-se.
Antonte : É quando foi a dois dias. Na cidade se fala anteontem.
Argudão : É aquela planta que chama-se na cidade de algodão.
Arve : Na cidade e nos dicionários é citado como árvore. No sítio é arve mesmo.
Bacuri : criança recém-nascida
Baita: Grande. Na roça, quando vai dizer que o porco é grande fala-se “é um baita de um porco”.
Bão : É quando o negócio é bom. Na vida do caipira não existe nada bom. Tudo é bão.
Bestagem : bobagem
Bico de luiz : Ponto para se colocar uma lâmpada. Mas o capiria também refere desta forma à luz, ou à lâmpada, colocada em algum lugar e que pode ser acesa.
Boi do cu branco : Indivíduo que faz tudo para ser diferente. Todo mundo faz de um jeito, e ele faz ao contrário, só pra aparecer.
Bosta da égua : É uma expressão utilizada quando se quer ignorar alguma pessoa, mostrar indiferença. Se diz: “Bosta da égua pra ele”.
Braba : Usa este termo quando a mulher é brava: Éla é muito braba”, como se usa no masculino, brabo. Mas é muito usada quando se refere à pinga ou pimenta muito forte: “Essa pinga é braba, sô”. “A pimenta malagueta é muito braba”.
Brabo : Este é um termo muito usado em algumas situações. A primeira se diz quando alguém ou animal é bravo: “Aquele cachorro do Tonho é brabo”. Quando algo é muito ruim: “Tá brabo o carro do Jão”. Quando algo de comer é muito forte: “Esse moio com pimenta tá muito brabo”.
Caboco : pessoa muito simples
Campiá : procurar
Capado : No sítio capado sempre é porco que se mata depois de ficar um tempo na ceva. Antes de colocar o porco para engordar, ele é castrado, que no sítio é capado. O caipira não castra, ele capa. Assim todo porco grande é capado.
Capitar : É o mesmo que capital.
Chapa : No linguajar caipira chapa é dentadura. Também é conhecida como “perereca”
Chegá : É o mesmo que chegar.
Chick no úrtimo : Quando algo é muito bom. Esta expressão é bem recente. Fala-se: “A festa do peão está chick no úrtimo”.
Coeio : É aquele animal que é chamado na cidade por coelho.
Corgo : É o mesmo que córrego. O caipira só vai pescá no corgo, nunca no córrego.
Corguinho . É um corgo pequeno. Quando tem um fiuzinho de água correndo, aquilo é um corguinho.
Cortá-chão : Ir embora. Quando o capiria que ir embora ele diz: “Vou cortá-chão”
Cu da maritaca : É uma situação de indignação ou até de revolta. Imagine um carro encravado. O caipira desce do carro, olha bem e lamenta: “É o cu da maritaca”. Ou então ele ouve que a chuva vai demorar. Ele reclama: “É o cuda maritaca”.
Cuisso : É o mesmo que “com isso”. Diz-se: “Não tenho nada cuisso”
Cum : É o mesmo que “com”
Cuzinha : O mesmo que cozinha
Dasveis : às vezes
De banda : de lado
Deixar debaixo do balaio : É alguém que deixou alguém esperando. O caipira fala: “Fiquei duas horas esperando e você me deixou debaixo do balaio”. Pode ser também quando se quer ganhar tempo com alguma situação. Aí é assim que se fala: “Vamos deixar esse negócio debaixo do balaio, depois a gente conversa e acerta”. Coisa que está pra acontecer.
Di : dei
Escangaiado : quebrado, destruído
Estorva : atrapalha
Fazê mar : É quando um rapaz desvigina uma menina, ou engravida-a. Então se diz: “O fulano fez mar pra menina”.
Fazeno : O mesmo que fazendo.
Festero : É quem faz festa, quem promove uma festa. No sítio tem sempre alguns bons festeros, que estão sempre prontos para animar e fazer festas
Foia : O mesmo que “folha”.
Figo : Aquele órgão do corpo humano que zanga quando a gente toma muito mé.
Fígado : é aquela carne do boi que a gente come em bife.
Forga : É o mesmo que folga. O caipira diz: “Amanhã é feriado e eu vô tá de forga”.
Forgo : Pronuncia-se “fôrgo”. É o mesmo que fôlego. Quando o caipira ouve um cantor que estica muito a nota, ele diz: “Esse cator tem forgo...”
Foro : A pronúncia é “fôro”. Um exemplo: “Eles foro imbora da cidade”. Seria o mesmo que “foram”.
Fumo : Aqui pode ser duas coisas. Se o caipira quer pitá, ele tem sempre um fumo bão. Mas se ele vai contar alguma coisa, então ele fala: “Nóis fumo pra cidade, antonte”. Neste caso é o mesmo que fomos.
Função : É quando o caipira faz um festa em casa e convida todo mundo. Esta festa é chamada de função.
Gaitada : risada estridente
Hom i : É o mesmo que homem.
Imbora : Fala-se quando a pessoa vai para algum lugar. “O rapaz foi imbora pra capitar”.
Incunvidado : É a pessoa que é convidado. “Eu fui incunvidado para a festa de aniversário”.
Inducação : É igual a educação. Quando a pessoa não é educada, ela é “senducação”.
Ingraçado : No dicionário o termo é grafado como engraçado. Coisa que tem graça.
Inguar : É o mesmo que igual.
Jão : No sítio não se diz João, mas sim, Jão.
Luiz : O mesmo que luz. Para não confundir com o nome próprio, a entonação está no “u”. Seria “Lúiz”.
Meia-pataca : insignificante
Memo : Caipira não fala “mesmo” de jeito nenhum. Ali é sempre “memo”.
Mii : O caipira nunca planta milho, mas, mii. Ou seja, milho pra caipira é mii.
Mió : Igual a melhor. O caipira usa esse termo também quando algo é ainda melhor. Ele diz: “Esse aqui é mais mió que aquele”.
Modequê : qual a razão, porque
Mortandela: O caipira não fala mortadela, mas sim, mortandela.
Muié : É o mesmo que mulher.
Nhô : tratamento respeitoso de senhor
Nóis : O mesmo que nós.
Onti : Quando se refere ao dia anterior. O mesmo que ontem.
Oreia : O mesmo que orelha.
Orná : combinar
Ovo atravessado : É quando alguém está mau humorado, nervoso. Então diz que fulano está com o ovo atravessado (ou ovo virado) hoje”.
Paiero : É aquele cigarro de palha que o caipira não abre mão. O caipira gosta de fumar um “paiero” dos bons.
Paieta : É chapéu de palha. O caboclo, quando vai na vila comprar chapéu para trabalhar, pede uma “paieta”. Mas é só chapéu de serviço. Pra sair é outro chapeu.
Pau da berada : Quando a pessoa está em uma situação ruim. Pode ser com saúde, mas normalmente usa-se muito quando alguém está numa situação financeira muito ruim. Quando alguém está quase quebrado financeiramente, é comum dizer: “O fulano está no pau da berada
Pé de boi : pessoa decidida, muito trabalhadora
Perereca : É o mesmo que dentadura. Conhecida também como chapa.
Pescá : É aquele esporte de se pegar peixe. Na cidade se fala “pescar”.
Picá a mula : Ir embora. Igual “cortá-chão”. Usa-se muito quando tem que sair depressa, por algum motivo. Ele diz, diante de uma confusão: “Eu vou picá a mula”.
Pranta : É o que se chama na cidade de “planta”.
Prantar : É quando o caipira vai trabalhar e começa a “plantar” a lavoura. É o mesmo que plantar.
Questã : É o mesmo que questão. O caipira fala: “A questã é o seguinte...”. briga jurídica; pergunta
Rancá : É o mesmo que arrancar. O caipira ranca toco, nunca arrancou nada.
Rei : Utensílio que a gente usa para bater na anca do cavalo, para incitá-lo a andar.
Réiva : raiva
Reis : A carta do baralho com a letra "K".
Relá : Na cidade, relar (o mesmo que relá) é apenas tocar, mas no sítio, relá tem um significado muito maior. Vai além de um simples toque. Normalmente vem acompanhado de mão. Ficando uma única expressão “relá a mão”. É comum o caipira dizer: “Quem relá a mão nessa arve, morre”.
Sacudido : pessoa decidida, capacitada e trabalhadora
Senducação : Quando alguém não tem educação. É comum ouvir, no sítio: “Aquele rapaz é muito senducação”.
Suzim : sozinho
Tá : O mesmo que “está”.
Táio : talho, corte
Tô : Igual a “estou”.
Tôco : pessoa muito rude, pedaço pequeno de um tronco
Trezontonte : É quando a coisa aconteceu faz três ou quatro dias. O caipira diz: “Eu te vi faiz trezontonte, fazendo compra na vila”.
Truxe : O caipira não fala trouxe, mas sim truxe. Ele diz: “Eu truxe um canivete dos bão”.
Úrtimo : É o mesmo que último.
Vará : É o mesmo que atravessar, mas tem mais uma interpretação. Os meninos, quando chegava circo na cidade, eles varavam, ou seja, passavam, escondidos, debaixo da lona para assisitirem o espetáculo de graça. O garoto falava para o outro: “Vamos vará o circo?”. Na primeira interpretação, vará é atravessar algo. O caipira diz: “O tiro varô o peito do home”.
Varado de fome : Se diz qundo está com muita fome. O caipira diz: “Estou varado de fome”.
Varti : Não existe um Valter na região. É tudo Varti. Pode ser com “W” ou com “V”, sempre vai ser Varti.
Véio : No sítio não tem velho, só véio. Usa-se também este termo no feminino: “Essa muié é muito véia pro cê”.
Virá com o arreio pra barriga : Quando alguém fica muito nervoso. No sítio se fala: “Quando a minha muié ficou sabendo das minhas puladinhas, ela virou com o arreio pra barriga”. É uma comparação com a situação do peão, que andando à cavalo, o arreio roda por não estar muito bem preso, e vira para a barriga, derrubando o peão.
Xicra : xícara
Zambeta : que tem a perna torta
Zarôio : caolho
Zóio : É o mesmo que olho. Tem uma brincadeira que se faz no sítio, dizendo : Zóio, zoreia, zunha e zovido”, referindo-se a “olho, orelha, unha e ouvido”.
Zorêia : orelha
Zunhada : unhada, arranhar com as unhas
quarta-feira, 10 de junho de 2009
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